Introdução
Vamos falar de uma condição que muita gente conhece bem – a famosa condromalácia patelar! Se você já ouviu pacientes reclamando daquela dor insistente no joelho ao subir escadas ou agachar, pode estar diante dela. A condromalácia é um desgaste na cartilagem atrás da patela que, em alguns casos, leva a muita dor e limitações. Então, prepare-se para entender o que é, como diagnosticar e quais são os principais tratamentos para ajudar seus futuros pacientes!
O que é Condromalácia Patelar?
Condromalácia patelar é o nome dado para o desgaste ou amolecimento da cartilagem na parte de trás da patela. Essa cartilagem é uma superfície que está em contato e desliza pela cartilagem do fêmur, mas quando perde sua consistência natural… o joelho sofre!

Agora, vamos entender detalhadamente o que acontece dentro do joelho e como isso causa dor:
A cartilagem articular da patela distribui as cargas na parte da frente do joelho de forma igual, fazendo que durante o movimento da patela na flexão e extensão do joelho ocorra de forma natural (com o menor atrito possível) . Quando essa cartilagem começa a sofrer microlesões ou desgastes, como ocorre na condromalácia, o tecido perde sua capacidade de absorver e dissipar as forças adequadamente. Essas microlesões levam a um processo de amolecimento da cartilagem, que é caracterizado pela perda de elasticidade e da capacidade de se adaptar às pressões e atritos.
À medida que a cartilagem se torna mais fina e irregular, ocorre um aumento no atrito entre a superfície posterior da patela e o sulco (tróclea) femoral, gerando uma inflamação na membrana sinovial, que é rica em terminações nervosas. Essa inflamação libera substâncias pró-inflamatórias (como prostaglandinas e interleucinas) que sensibilizam os nervos locais, provocando a sensação de dor.
Outro fator que contribui para a dor é o desequilíbrio biomecânico. Quando há fraqueza ou incoordenação dos músculos ao redor do joelho, como o quadríceps, a patela pode não se movimentar de forma centralizada no sulco do fêmur, o que aumenta ainda mais o atrito em regiões vulneráveis da cartilagem. Isso é comum em desalinhamentos como o valgo dinâmico, que desloca a patela para fora do seu trajeto ideal, exacerbando o desgaste e a dor.
Essa sequência de atrito, inflamação e desgaste crônico gera a dor característica da condromalácia, especialmente em atividades que aumentam a compressão patelo-femoral, como subir escadas, agachar ou correr. A dor é, portanto, resultado de uma combinação de microtraumas contínuos na cartilagem e de uma resposta inflamatória que sensibiliza os nervos ao redor do joelho.
Por Que Esse Problema Surge?
Muitos fatores podem levar ao desenvolvimento da condromalácia, e eles vão muito além da corrida. Vamos dar uma olhada nos mais comuns:
- Desalinhamento Patelar: Já ouviu falar do famoso “joelho pra dentro” (valgo)? Em pessoas com desalinhamento, a patela passa a esfregar em áreas erradas, e a cartilagem não gosta nem um pouco disso.
- Sobrecarga e Uso Excessivo: Esportes de impacto, como corrida e salto, ou qualquer atividade repetitiva que envolva o joelho, podem levar ao desgaste da cartilagem. É o famoso “usar até gastar”.
- Fraqueza Muscular: Quadríceps enfraquecido? Ele é um grande estabilizador da patela, então, se está fraco, a patela tende a sair do lugar ideal.
Sintomas da Condromalácia
Como reconhecer? Os sintomas da condromalácia são bem específicos. Geralmente, quem sofre dessa condição relata:
- Dor no Joelho (principalmente ao agachar ou subir escadas): Essa é clássica, aquela dorzinha incômoda bem na frente do joelho.
- Estalidos e Crepitação: Ao mover o joelho, a pessoa pode sentir ou ouvir estalos. Um sinal claro de que algo não vai bem na cartilagem.
- Sensibilidade e Inchaço: O joelho pode ficar um pouco mais “inchado” ou sensível ao toque, principalmente após atividades físicas.
Diagnóstico: Como Confirmar a Condromalácia Patelar?
Para identificar a condromalácia patelar, uma avaliação cuidadosa com exames físicos e, quando necessário, exames de imagem é essencial. Vamos conferir cada etapa:
- Exame Clínico: O exame clínico é o primeiro passo, onde avaliamos a mobilidade da patela, a dor provocada pelo movimento e a presença de estalidos ou crepitação.
- Radiografia: Embora a cartilagem em si não apareça na radiografia, esse exame ajuda a descartar outras causas de dor, como fraturas, artrose ou desalinhamentos ósseos que podem estar associados.

- Ressonância Magnética (RM): A RM é o exame de escolha para uma avaliação mais detalhada da cartilagem, permitindo visualizar alterações no tecido que indiquem o grau de condromalácia e a extensão do desgaste. É indicada em casos onde há dúvida no diagnóstico ou em pacientes com sintomas persistentes que não melhoram com o tratamento conservador.

- Artroscopia: Em casos selecionados, onde há sintomas persistentes ou quando outros exames não conseguem esclarecer o diagnóstico, a artroscopia pode ser considerada. Esse procedimento é minimamente invasivo e permite uma visualização direta da cartilagem articular. Além de confirmar a condromalácia, a artroscopia de joelho possibilita a classificação do grau de desgaste da cartilagem e, se necessário, o início de um tratamento terapêutico imediato, como o debridamento ou a microfratura. No entanto, devido ao seu caráter invasivo, a artroscopia é geralmente reservada para casos complexos ou para pacientes que não responderam ao tratamento conservador.

Tratamento da Condromalácia Patelar
Vamos ao que interessa: como tratar? Os tratamentos vão desde cuidados conservadores até, em último caso, cirurgia. O tratamento da condromalácia patelar é multifatorial e pode variar dependendo do grau da lesão, dos sintomas e do estilo de vida do paciente.
Agora iremos conhecer as principais abordagens:
1. Mudanças de Estilo de Vida
- Controle do Peso: A cada passo, nossos joelhos suportam até três vezes o peso do corpo, e o excesso de peso aumenta significativamente a pressão sobre a patela e a cartilagem articular. Controlar o peso reduz o impacto nas articulações e diminui a progressão do desgaste.
- Prática de Atividades Físicas: Exercícios de baixo impacto, como caminhada, bicicleta e natação, são ideais para preservar a saúde das articulações sem sobrecarregar a patela.
- Fortalecimento Muscular: Fortalecer o quadríceps, glúteos e músculos ao redor do joelho é fundamental. O fortalecimento ajuda a estabilizar a patela, aliviando o desgaste da cartilagem. Exercícios que trabalhem a musculatura da perna, especialmente o quadríceps, reduzem o desalinhamento da patela e proporcionam um suporte mais eficiente ao joelho.

2. Reabilitação com Fisioterapia
A fisioterapia é uma aliada essencial no tratamento da condromalácia. Ela combina várias técnicas para aliviar a dor e reeducar o movimento. Alguns pontos de destaque na reabilitação incluem:
- Fortalecimento e Alongamento Muscular: Exercícios específicos para o quadríceps, isquiotibiais e glúteos ajudam a estabilizar a patela, alinhando o joelho para uma biomecânica mais adequada.
- Propriocepção: Exercícios proprioceptivos, como o uso de bases instáveis e movimentos de equilíbrio, fortalecem as articulações e melhoram o controle neuromuscular, ajudando a reduzir a sobrecarga na articulação patelofemoral.

- Técnicas de Analgesia: Métodos como o uso de TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea), ultrassom e terapia manual ajudam a reduzir a dor, promovendo alívio e facilitando a adesão aos exercícios de fortalecimento.
3. Acupuntura
A acupuntura é uma alternativa para complementar o tratamento da dor, principalmente em casos onde há resistência a analgésicos convencionais. Embora não resolva a causa da condromalácia, pode ser eficaz no controle dos sintomas e na qualidade de vida do paciente.
4. Infiltrações com Ácido Hialurônico

As infiltrações com ácido hialurônico, também conhecidas como viscosuplementação, são indicadas para reduzir o atrito entre a patela e o fêmur, além de oferecer um alívio sintomático para a dor. O ácido hialurônico atua como um “lubrificante” da articulação, proporcionando mais fluidez ao movimento e aliviando a pressão sobre a cartilagem. As infiltrações são especialmente recomendadas para pacientes que apresentam resistência ao tratamento conservador e desejam uma opção para reduzir a dor e facilitar a função do joelho no curto e médio prazo.
Fisioterapia e Exercícios para Condromalácia
A fisioterapia é o carro-chefe no tratamento da condromalácia. Com exercícios bem direcionados, é possível controlar os sintomas e melhorar o funcionamento do joelho:
- Fortalecimento do Quadríceps: Esse é o músculo que vai “segurar” a patela no lugar certo. O fortalecimento do vasto medial oblíquo (VMO) é essencial.
- Alongamento: O alongamento dos músculos da coxa (como quadríceps e isquiotibiais) alivia a pressão sobre o joelho e ajuda na mobilidade.
- Propriocepção: Exercícios com superfícies instáveis ajudam no equilíbrio e controle do movimento do joelho, prevenindo novas lesões.
Pode Continuar se Exercitando?
Sim, mas com cautela. Para quem tem condromalácia, o segredo é ajustar a rotina de exercícios. Aqui estão algumas dicas que você pode passar:
- Evitar Exercícios de Alto Impacto: Saltos e corridas longas podem agravar os sintomas. Alternativas como natação e bicicleta são bem-vindas.
- Fortalecimento Muscular é Essencial: Principalmente de forma controlada, com pouca carga no início. Fisioterapia ajuda aqui.
- Fique Atento aos Sintomas: Dor é um sinal de alerta – se aparecer, é melhor parar e avaliar antes de continuar.
Conclusão
A condromalácia patelar é uma condição comum e, embora possa limitar atividades do dia a dia e causar dor considerável, existem várias opções de tratamento que visam controlar os sintomas e melhorar a função do joelho. Como vimos, mudanças no estilo de vida são fundamentais para reduzir a sobrecarga sobre a patela e evitar o agravamento do desgaste articular.
A Fisioterapia desempenha um papel essencial, oferecendo tratamentos como fortalecimento muscular, exercícios de propriocepção e alongamentos para estabilizar a patela e aliviar a dor. Além disso, outras abordagens terapêuticas, como a eletroterapia (TENS), ultrassom e laser, ajudam a reduzir a inflamação e promovem analgesia, tornando o processo de reabilitação mais confortável e eficiente.
Na Medicina, contamos com recursos que complementam os tratamentos conservadores, como as infiltrações com ácido hialurônico, que auxiliam na lubrificação articular e no alívio da dor, principalmente em casos que não respondem bem a tratamentos tradicionais. A Acupuntura também é uma alternativa complementar para controle da dor e redução da resposta inflamatória, sendo uma boa opção para pacientes que preferem tratamentos minimamente invasivos.
Com o acompanhamento adequado, é possível que o paciente retome suas atividades e preserve a função do joelho a longo prazo. Para aqueles que buscam uma recuperação completa e um retorno seguro às atividades, o tratamento deve ser individualizado, abrangendo diferentes áreas da saúde para melhores resultados.

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